Tristeza materna e Depressão Pós-Parto

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Quero deixar essa mensagem com muito carinho e cuidado para você que está buscando informações e ajuda sobre o assunto sensível desse artigo. Se você está procurando para você mesma, imagino que já deve ter passado por muitos momentos difíceis e que o cansaço e preocupação possam estar ocupando seus pensamentos e coração.

Desejo que as palavras que deixarei aqui possam ser recebidas por você como se fossem um colo, e que possam aconchegá-la nesse momento difícil, nesse mergulho de autoconhecimento que é o período do puerpério. Lembre-se de que não precisa passar por isso sozinha, procure por ajuda especializada quando sentir que a experiência de sofrimento está sendo muito difícil de vivenciar e elaborar. A Terapia Individual oferece o suporte e cuidado para melhor lidar com as tensões desse período e pode ser conjugada ao atendimento de outros profissionais de saúde mental, quando necessário. De forma complementar, os Grupos de Pós-Parto podem ser um apoio importante para as mães que acabaram de ter seus bebês. Com apoio, é possível vivenciar a maternidade de forma mais leve, com mais segurança e menos culpas, medos ou cobranças exageradas. Conte comigo.

A chegada do bebê… mas e a mãe?

A chegada do bebê pode trazer a atenção de todos ao redor da família: parentes, amigos, vizinhos e conhecidos se sensibilizam com o nenenzinho, querem notícias, querem se aproximar e dizer sobre seus afetos para a mãe e o pai. Ao mesmo tempo em que todos olham para o bebê, muitas vezes esse momento é (contraditoriamente) de muita solidão para as mães. Sim, muitas mães sofrem com a solidão e com todas as mudanças quando chega o bebê. Muitas mães se sentem pouco vistas e escutadas nesse momento, e muitas delas não conseguem a oportunidade para se abrir de forma mais verdadeira e compartilhar o turbilhão de sentimentos que estão descobrindo.

Nasce um filho, nasce uma mãe, mas não é porque se tornou uma mãe que já saberá lidar com tudo o que o bebê lhe convida a viver. Descobrindo sentimentos muito intensos e às vezes contraditórias, alegrias enormes junto com mergulhos em mares nunca antes conhecidos por você. Nesse texto, vamos falar um pouco sobre Tristeza Materna, Depressão Pós-Parto e deixo ao final algumas palavras de aconchego.

O que é a Tristeza Materna e a Depressão Pós-Parto e como posso saber se preciso procurar por ajuda profissional?

A Tristeza Materna, ou baby blues, é um estado de humor depressivo, bastante comum às mães puérperas: cerca de 80% delas irão passar por essa experiência. Em seu baby blues, a mãe puérpera sente tristeza, irritação, muita vontade de chorar, alteração do sono e apetite, desânimo, falta de energia, baixa autoestima, insegurança, dentre outras experiências.

Essas manifestações físicas e emocionais são coerentes com as enormes mudanças que acontecem no puerpério: a transformação do lugar de filha para o lugar de mãe (mesmo ainda não se sentindo muito segura para ocupar o novo lugar); as transformações na imagem corporal (que já não é de gestante nem de antes da gravidez) e as mudanças que a maternidade traz para sua relação com a sexualidade (agora, entre ela e o companheiro, há uma terceira pessoinha) (IACONELLI, 2005).

A maior parte dos casos de Tristeza Materna evoluem para sua resolução de forma espontânea em algumas semanas, isso é, na medida em que seja possível elaborar todas essas experiências intensas e sensíveis, dentro do processo único de cada mulher.

Já a Depressão Pós-Parto é um quadro clínico mais severo, com sintomas mais intensos e duradouros que implicam em grande sofrimento para a mãe e suas relações e que requer toda a atenção, devendo ser acompanhada por psiquiatra e psicoterapeuta para oferecer os cuidados adequados a essa mãe. A Depressão Pós-Parto acontece a cerca de 15% das mulheres, após darem à luz, e inclui mudanças físicas, emocionais e relacionais cujos sintomas podem começar na primeira semana após o parto e se estender por até dois anos.

Tanto a Tristeza Materna como a Depressão Pós-Parto acometem mulheres puérperas de todas as idades, etnias e classes. Ambos os quadros não são frescura e devem ser compreendidos como uma experiência dolorosa de sofrimento. Ainda que a Tristeza Materna seja um quadro que tende a evoluir bem em algumas semanas, a busca por Terapia Individual ou os Grupos de Pós-Parto contribuem para atenuar a experiência de sofrimento das mães puérperas. Já a Depressão Pós-Parto, como dito anteriormente, requer cuidado especializado.

Não existe uma causa identificada para que a Depressão Pós-Parto aconteça para uma mulher, mas sabemos que algumas situações podem trazer uma experiência de puerpério ainda mais sensível do ponto de vista psíquico:

  1. Falhas na rede de suporte afetivo da mulher;
  2. Relações conflituosas com a família mais ampla, com o sentimento de não estar recebendo o apoio imaginado ou desejado;
  3. Dificuldade na comunicação estabelecida com o pai sobre como será a parceria nos cuidados, tarefas e decisões;
  4. Dificuldades relacionadas à experiência de sexualidade no pós-parto;
  5. Dificuldades financeiras e as preocupações decorrentes da situação;
  6. Experiência de gestação e parto com complicações, até os casos de violência obstétrica;
  7. Vivência recente de perda de pessoas queridas e de lutos recentes.

Sinais de sofrimento psíquico que justificam a busca por ajuda profissional

Esses são alguns sinais de sofrimento psíquico característicos da Depressão Pós-Parto que apontam para a necessidade de procurar por ajuda profissional.

  1. Tristeza profunda e muita vontade de chorar;
  2. Mudanças bruscas de humor;
  3. Irritabilidade aumentada e inquietação;
  4. Desânimo, cansaço intenso, falta de energia;
  5. Aumento dos conflitos com o parceiro após a chegada do bebê;
  6. Dificuldade de concentração, de memória e dificuldades para tomar decisões;
  7. Dificuldade para dormir;
  8. Alterações no apetite;
  9. Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas;
  10. Muitas vezes, uma culpa interna feroz, que acusa a mãe de ser incapaz de cuidar de forma adequada do seu bebê;
  11. Desinteresse pelas atividades do dia-a-dia e pelo bebê, podendo em alguns casos chegar ao extremo de temer se machucar ou machucar o próprio bebê.

É importante dizer que a Depressão Pós-Parto tem tratamento e que irá embora. O tipo de tratamento depende do agravamento da depressão, e requer o acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico.

Algumas palavras de carinho, colo e cuidado para uma mãe recém-nascida que está procurando se acolher e se compreender

Em primeiro lugar, gostaria de oferecer todo apoio e compreensão e dizer que não há nada de errado com você.

Não se esqueça: culturalmente, a maternidade é vista de forma muito idealizada, como se, ao tornar-se mãe as mulheres automaticamente já deveriam saber de tudo sobre seu bebê e sobre ser mãe. E isso não é verdade, a maternidade é construída e os cuidados são aprendidos aos poucos.

E nesse processo tem muitos sentimentos diferentes além de amor e alegrias: também medos, dúvidas e angústias.

Lembre-se: as mães não precisam ser perfeitas nem dar conta de tudo. Há uma cobrança/expectativa da sociedade para que as mulheres deem conta dos filhos, da casa, das relações (conjugal, familiares), e às vezes também do trabalho, ou seja, para que sejam uma espécie de mulher-maravilha. Calma, não se cobre tanto. Se tiver curiosidade, veja o artigo que escrevi sobre puerpério, medo, culpa e a maternidade possível.

Minha terceira palavra de aconchego é que tudo bem se sentir um pouco perdida. Como diria a Clarice Lispector, “perder-se também é caminho”. Olhe para você e o bebê hoje, sem se cobrar em ser e fazer tudo da forma como era antes. Ou em fazer tudo de forma perfeita.

O que é possível fazer hoje?

Decidir hoje?

Delegar a alguém hoje?

O ritmo com o bebê convida a viver outras coisas, de outra forma, e está tudo bem! Haverá tempo para a transformação, sua e dele, e haverá um outro tempo para resgatar aquilo que você sente que precisa. Tudo em seu tempo.  

Também, que o puerpério é um convite para acessar partes esquecidas e até desconhecidas da psique da mulher. Uma forma de lidar com essa intensidade de descoberta e transformações é investir no autocuidado e no autoconhecimento.

O que você tem descoberto sobre si?

Imagino que tem sido visitada por muitos sentimentos, não é… O que eles estão lhe contando a seu respeito, nesse momento?

Procure por pessoas de sua rede de suporte que você confie e que sinta que poderiam te escutar com acolhimento. Considere também participar de Grupos de Pós-Parto ou procurar por Terapia Individual. Lembre-se, você não precisa passar por isso sozinha.

Por último, nenhuma das experiências que está passando, por mais difícil que seja, vai durar para sempre. Calma, respire, o bebê está crescendo e com isso vocês dois irão entrar em novas fases, é só uma questão de tempo, cuidado e apoio necessários para esse momento.

Se sua experiência de sofrimento se agravar e sentir que está muito pesado lidar com tudo o que está acontecendo, considere procurar por apoio profissional. São muitos formatos possíveis de terapia, de acordo com sua necessidade: Terapia Individual; Terapia de Casal e o Atendimento Terapêutico Conjunto a Pais e Bebês.

A mãe puérpera também pode se beneficiar dos grupos terapêuticos de pós-parto, partilhando suas experiências junto a outras mulheres que estão em situação similar. Conte comigo para encontrar a melhor modalidade de terapia para sua necessidade e cuidarmos juntas do momento em que está.

Você não precisa passar por isso sozinha!

Com carinho,

Terapeuta Ana Payés

Referências:

IACONELLI, V. Depressão Pós-Parto, Psicose Pós-Parto e Tristeza Materna. Revista Pediatria Moderna, Julho-Agosto, v. 41, nº 4, 2005.


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